Autor: João Antonio Wiegerinck
Depois dos horrores da 2ª Guerra Mundial, as pessoas em todo o mundo suspiraram aliviadas. Mesmo os que não estavam próximos fisicamente do front e das trincheiras em que tantas vidas se perderam, sofriam por parentes, amigos, ou, ainda, pelo semelhante em solidariedade.
A geração que nasceu naquele período, especificamente nos últimos cinco anos do conflito, encontrou suas nações comprometidas com a reconstrução. Reconstrução de tudo, das residências à infraestrutura social e econômica. O que variava era tão somente o grau em que tal se dava, ou seja, se tijolo por tijolo e semente por semente, ou a recomposição da confiança do mercado e dos meios de produção rumo à retomada do progresso.
O quadro descrito mostra a dificuldade generalizada e instalada durante toda a fase de ressurgimento suficientemente equilibrado para a classe média de então. Ainda que com poucos recursos, essa geração criou seus filhos desejando que estes nunca passassem pelas agruras de uma guerra e suas sequelas.
Imprescindível observar que a preocupação em poupar os pupilos ainda não abrangia toda e qualquer dificuldade, mas sim aquelas que de fato ameaçam sobrepujar o espírito humano em tempos de fome e mortes em massa, genocídios, devastações além do horizonte.
Um pouco depois, já nos idos entre 1965 e 1975, os então casais que se uniam para formar uma família com filhos, haviam observado a ascensão econômica de alguns e a disparidade absurda para com outros. Não que o comunismo fosse, ou seja, a resposta, mas entre a Guerra Fria e a filosofia de ganhar tudo sempre, só ter valor ser o número um e, mais particularmente, levar vantagem em tudo, ninguém se importou em compensar a distância que ia se acentuando entre as classes intermediárias.
A preocupação da classe média era criar seus filhos sob a égide do pensamento “Você não vai passar por absolutamente nenhuma dificuldade se eu puder evitar.” Não se tratavam mais de eventos de pós-guerra, ou ainda de dificuldades enfrentadas apenas pelos pais em tempos mais áridos. Mas de toda e qualquer dificuldade.
Foi dessa maneira que toda uma geração passou a observar seus filhos saírem de casa, indignados por não terem tudo do bom e do melhor, ou, na expressão mais utilizada na amargura dos próprios pais, sem terem aprendido a dar valor às coisas da vida. Bem, eles aprenderam que se não tinham, mereciam tudo de melhor, mesmo sem ter que fazer nada para alcançar isso a não ser, às vezes, não repetir o ano na escola.
O lapso se acentua um tanto precisamente neste ponto.
Ter acesso à faculdade, ter carro à disposição ou o seu próprio carro, não tomar ônibus, trem ou metrô, ter cartão de crédito, TV a cabo, telefone celular, tocador de música e vídeos, tablets, Iqualquercoisa, microcomputador com internet ou wi-fi em toda a casa, viajar para outros países ao menos uma vez por ano, entre outros itens.
Os pais de hoje estão programando seus filhos para acumularem os pseudodireitos já citados antes somados aos demais benefícios rotulados como obrigação de pais responsáveis e bem-sucedidos. São itens considerados por eles básicos para sobreviver. Ninguém falou ainda em ser feliz.
Estaria tudo perdido? Não.
Existem alguns pais que, tendo sido bem-sucedidos financeiramente mais cedo do que a estatística aponta, compreenderam que a felicidade ainda é o melhor legado que podem deixar aos seus filhos. E a felicidade não está baseada, primeiramente, em bens materiais. Mas na satisfação de vencer respeitando o próximo. De ser reconhecido como indivíduo primeiro, e proprietário, depois.
É bem verdade que alguns avós, tios e agregados contribuíram demais. Continuaram levando seus netos, sobrinhos e enteados para os parques, brinquedos não-eletrônicos, mostrando que a honestidade é uma virtude, assim como a lealdade e a ética. Ser solidário também é “da hora”.
Então, a solução é retornar aos anos 1950 e “desplugar” os jovens? Não, é claro. Isso seria um radicalismo, e nenhum radicalismo é inteligente ou produtivo e próspero. É importante manter a juventude atualizada com os instrumentos da evolução e do progresso. Instrumentos. Instrumentos são meios. Não objetivos.
Vale a proposição: Por que não trocar o tempo destinado para buscar a foto ou declaração daquele astro da banda que canta uma música cujo refrão é “só você é que importa e o resto que vá…” por uma busca a respeito da fauna ou da flora que povoam o local que se está visitando, como um bosque, uma praia, um parque?
São tantas as opções para se unir o que cada geração fez e faz de melhor. Não é necessário nem aconselhável insistir no pacto pela alienação em busca de uma condição impossível ou nefasta como “meu filho não vai sofrer nunca a respeito de nada.” Não se cresce sem decepções, por menos que as desejemos.
Os jovens de sucesso para as próximas gerações serão, por força da lógica e do bom senso geral, aqueles que conseguirem resgatar os valores morais e éticos anteriores às falácias do individualismo egoísta, mesquinho e decadente. O êxtase solitário é ridículo frente ao celebrar amigável e sincero.
O impulso no sentido de alinhar as diferentes gerações em um mesmo sentido, respeitadas as variações, mas mantida a direção, é o fato de que o ser humano com mais idade, permanece feliz enquanto guarda em si a jovialidade que aprendeu a criar e a manter durante toda a sua existência.
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