terça-feira, setembro 06, 2011

O desafio de educar

A avaliação sempre esteve no enfoque das minhas pesquisas. Diante dos novos paradigmas educacionais, é importante buscar informações complementares. Este texto, do Globo Cidadania, apresenta propostas inovadoras sobre como avaliar seu aluno.

"O desafio de educar: conheça os diferentes métodos de avaliação

O ato de educar foi descrito pelo neurologista austríaco e pai da psicanálise, Sigmund Freud, como uma missão impossível, juntamente com as tarefas de psicanalisar e governar. O próprio Freud admitiu, certa vez, que talvez não tenha se debruçado de forma necessária para compreender os mistérios que envolvem a educação de um ser humano. Partindo da idéia de que cada sujeito é singular, o austríaco achava pouco provável que alguém um dia pudesse descobrir uma fórmula que se aplicasse a todas as crianças ao mesmo tempo. Assim como educar é uma tarefa árdua, o modo de avaliar o ensino e o aprendizado é também uma grande questão para os educadores.


Para Ana Elizabeth Lima de Oliveira, diretora há 30 anos da escola A Chave do Tamanho, instituição no Rio de Janeiro que se baseia em fundamentos e práticas criados por Jean Piaget, o método de avaliação de uma escola define o quanto o aluno vai aprender de fato. Uma escola piagetiana utiliza a avaliação contínua: os alunos são observados diariamente e suas atitudes e desenvoltura anotadas em uma ficha individual. No final de cada semana, testes desenvolvidos por Piaget são aplicados aos alunos, a fim de checar a compreensão de determinados assuntos como peso, volume e atomização, por exemplo, para que as novas atividades sejam propostas a eles. Não há quadro negro nas salas, os professores propõem questões a serem resolvidas pelos alunos. A escola optou por aplicar este método de conceito, que diferente do método chamado “regular” não aplica provas, porque acredita que decorar não é a melhor forma de aprendizado.

“As crianças podem ter decorado para fazer a prova, mas no momento seguinte elas esquecem. Isso pode ser comprovado nos resultados dos Testes ABC, aplicados pelo Governo Federal em todo o Brasil, que constatou que as crianças não sabem nada do conteúdo ensinado quando o assunto é matemática. O conhecimento é uma construção, por isso, avaliar é tão difícil”, explica Ana Elizabeth. O fato das crianças nascerem já na era digital, em que a facilidade e a profusão de informações existem, corrobora com o pensamento da educadora, que acredita ser preciso ensinar a pensar. “Estamos no século XXI em uma escola que nem chegou ao século XIX. A escola está ficando uma coisa arcaica por conta da avaliação. Hoje, as informações estão disponíveis na internet, tem é que se avaliar como a criança pensa. Tabuada hoje em dia vem no lápis. A calculadora faz contas. Por isso, a avaliação tem que ser conceitual e estar focada na inteligência, no pensar”, sinaliza Ana Elizabeth. Com o intuito de que o método seja aplicado corretamente, a instituição capacita professores com um curso de formação, e todos eles, para serem admitidos, fazem um estágio na escola.
Na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, unidade técnico-científica da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) no Rio de Janeiro, dedicada à educação, os alunos do ensino médio têm dois métodos de avaliação distintos. A escola, que integra o ensino regular de educação profissional formando técnicos em análises clínicas, utiliza o portfólio e a monografia para checar os conhecimentos adquiridos por seus alunos. A EPSJV criou um componente pedagógico chamado Iniciação à Educação Politécnica (IEP) onde eixos como política, trabalho, ciência e saúde são discutidos pelos alunos. Uma outra disciplina chamada Trabalho de Integração debate as habilidades de cada eixo de forma conjunta. Isso proporciona aos alunos embasamento para discutir textos propostos pelos professores, e assim avaliar, com um olhar crítico, suas visitas técnicas aos laboratórios, por exemplo.
O portfólio teve origem a partir dessas atividades. Funciona como um diário de bordo do aluno, onde ele coloca todas as discussões que teve em sala de aula, tentando fazer a integração dos conteúdos dos diferentes eixos e as observações feitas nas visitas técnicas realizadas. É o que explica Luiz Baldacci, coordenador geral do Ensino Técnico da ESPJV. “O portfólio é a possibilidade de o aluno criar em cima de sua vivência, de sua percepção, e das questões com que ele está se deparando na vida cotidiana. Isso engloba, por exemplo, um filme que ele assistiu no cinema. Caso consiga fazer uma conexão com o conteúdo que aprendeu, ele pode fazer um texto sobre essa discussão. Há uma liberdade de criação sobre os diversos conteúdos que ele tem apreendido. E isso também é importante para o curso. Saber o que inquieta os jovens, o que precisa ser discutido, nos faz repensar as dinâmicas das aulas através das questões que os alunos levantam”. Ao final da disciplina há uma avaliação do professor sobre esse portfólio, que é visto por ele constantemente.
O portfólio é característico do primeiro ano e parte do segundo. A monografia acontece no terceiro ano, mas tem ligação com o início. A visão crítica sobre o trabalho do técnico em saúde, construída no IEP, desperta o interesse dos alunos por determinadas pesquisas. No segundo ano eles discutem como fazer esta pesquisa e caminham para um pré-projeto a ser desenvolvido no terceiro ano. Cada aluno tem ao menos um orientador e, durante o ano há encontros semanais entre ele e os professores que, em meados do terceiro ano, fazem uma qualificação desse projeto para definir como dar prosseguimento ao trabalho. A banca sugere modificações e avalia o pré-projeto para que ele possa ter sucesso no fim do terceiro ano. Paralelamente a estes métodos, há provas e trabalhos que avaliam o aluno nas disciplinas comuns de ensino médio, nas quais eles recebem notas que geram uma média.
No Ensino de Jovens e Adultos do Estado da Bahia, foi criado um método de avaliação chamado Caderneta Pedagógica. Isso porque o método regular de aplicação de provas não estava sendo eficaz. A coordenadora de EJA da Secretaria do Estado da Bahia, Marlene Souza Silva, explica que a evasão escolar cresceu exponencialmente nos últimos anos e, por isso, o estado optou por este novo método de avaliação.

“A realidade desses jovens e adultos é muito diferente da de um aluno com a idade estipulada para a série. São pessoas que trabalham, que já têm idade avançada, estão cansadas e, naturalmente, têm mais dificuldade em aprender. Cobrar delas o mesmo resultado de um aluno do ensino regular é injusto. Elas acabavam desistindo de estudar porque se sentiam fracassadas. A escola não pode representar um fracasso na vida de um vencedor, de uma pessoa que já enfrentou tantas adversidades na vida”, defende Marlene.
A caderneta pedagógica funciona como um diário do percurso formativo do aluno. “O professor vai avaliando os aspectos cognitivos e socioformativos, tentando sair da questão conteudista da escola. Isso engloba a capacidade de argumentação, vocabulário amplo, ações para desenvolver leitura e escrita. Ele vai trabalhando os conteúdos das disciplinas visando esses aspectos, porque não se desenvolve habilidades e competências se não for através de conteúdo. O professor usa legendas que indicam aprendizagem construída, aprendizagem em construção e aprendizagem a construir”, diz Marlene.
O Ensino de Jovens e Adultos também é oferecido na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, na modalidade nível médio. Recentemente a EPSJV realizou um seminário que discutiu novas formas de avaliação para o EJA, que adotava o método regular, onde se tira uma média das notas de provas aplicadas, para aprovar ou reprovar os alunos. Atualmente, os estudantes têm seus conhecimentos avaliados através de uma ficha de acompanhamento, preenchida pelos professores diariamente. Mas a experiência ainda é recente, o novo modo de avaliar está em prática há apenas um semestre, o que não permite saber se há deficiências nesse método e quais são elas. Luiz Antonio Saléh, um dos três coordenadores do EJA na ESPJV, explica porque o método foi adotado. “As mudanças ocorreram porque, após um longo debate, achamos injusta a aplicação de provas como único método avaliativo. A prova expõe o resultado de apenas um dia. Um aluno pode ter tirado 10 e ter colado, assim como ter ido mal em uma prova por conta de algum problema pessoal. O curso tem uma política pedagógica única, mas cada professor faz uma avaliação individual. No final do semestre os professores se reúnem e discutem o rendimento de cada aluno. No final de cada semestre o professor decide se vai aprová-lo ou não. Caso seja reprovado em uma disciplina, pode fazer um trabalho paralelo na dificuldade em questão”, diz Saléh.
Já no Colégio Estadual Vitor Soares, na Bahia, que propõe a chamada educação inclusiva, com um projeto que integra em seu ensino regular alunos com deficiência auditiva, visual, física, intelectual e mental e sem deficiência, todos os alunos acompanham e executam as tarefas correspondentes à sua seriação, passando pelo mesmo processo de avaliação. José Carlos Lima, diretor da instituição, explica que o que difere no método de avaliação é a cobrança. “Os conteúdos são trabalhados de forma normal, porém os alunos recebem reforço. Para os estudantes com deficiência auditiva, por exemplo, existe uma dificuldade em aprender as sílabas fortes. Conteúdos desse tipo não são cobrados desse deficiente. Temos uma sala multifuncional, com jogos diferenciados, com objetos diversos, como os táteis, utilizados para estimular o aprendizado dos deficientes visuais. As avaliações são adaptadas, observando a capacidade e as necessidades de cada aluno”, conta José Carlos."

Boa leitura!!

Conceição

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